crev(7)
Atualizado em 2023-05-25
NOME
crev - companheiro de revisão de textos em português
SINOPSE
man 7 crev
DESCRIÇÃO
crev é um documento de referência que ajuda a escrever e revisar textos em português, indicando erros comuns e vícios de linguagem que fogem à norma culta.
QUESTÕES VERNÁCULAS
Crase
A crase é a fusão de duas vogais idênticas, e pode ser aplicada às grafias de vêm / têm (em vez de veem / teem: Eles vêm de São Paulo / Vocês têm pouco tempo) e à contração da preposição a com um artigo ou pronome iniciado em a: à / às / àquele / àquela / àqueles / àquelas / àquilo
A crase deve ser usada quando se referem às horas: Às sete horas / Morreu à uma da madrugada, pois o numeral admite determinação: Faltavam quinze minutos para a uma hora da tarde
São condições para a crase:
- A crase vem antes de palavra feminina. São inadmissíveis construções como:
ERRADO: Ele foi à pé
ERRADO: Compras à prazo
ERRADO: Ele está à morrer
ERRADO: Está à cargo
ERRADO: Remete à um tempo bom
ERRADO: À este
ERRADO: À esta
ERRADO: À essa
A palavra depende de outra que exija preposição a
É necessário que a palavra admita o artigo feminino a:
ERRADO: Ele foi à Roma (pois diz-se somente Roma é cidade linda e não A Roma…)
Regras Práticas para o uso da crase:
- Há crase sempre que, substituído o vocábulo feminino por um masculino, aparece ao antes do nome masculino:
DÚVIDA: Eu vou a/à cidade? Diz-se: Eu vou ao teatro. Logo, Eu vou à cidade
- Craseia-se o a quando pode ser substitído por para a / na / pela / com a: Estou nas portas da morte, logo Estou às portas da morte
Pronomes demonstrativos
Este é o uso correto dos pronomes demonstrativos isto/isso/aquilo, este/esse/aquele, esta/essa/aquela:
- Em função do espaço: isto está próximo de quem fala, isso está próximo da pessoa com quem se fala, aquilo está distante dos dois
- Em função do tempo: isto é no tempo presente, isso é num tempo (passado ou futuro) próximo, aquilo é num tempo distante
- Em função do discurso: isto indica o que ainda será dito, isso indica o que já foi dito. No entanto, na enumeração, usamos este e aquele, respectivamente, para se referir ao mais próximo e ao mais distante: Hegel foi uma grande influência de Marx. Embora aquele tenha sido idealista, este foi materialista.
Inclusive
Ver ALMEIDA (1998), verbete inclusive
Seu uso correto é como advérbio, e equivale a inclusivamente: Cheguei ao capítulo dez inclusive / Copie este trecho inclusive até as palavras “faz-me bem”
Nunca deve ser usado no lugar de até / até mesmo / chegando a ponto de / ao ponto de / além de / mas também / além do mais / ao mesmo tempo / incluindo / e também / ademais / o próprio:
ERRADO: …o velho escritor ficou revoltado e ameaçou inclusive fisicamente
CERTO: …e ameaçou até fisicamente
ERRADO: Há dezoito passageiros a bordo, inclusive quatro crianças
CERTO: …incluindo quatro crianças
ERRADO: Lembremo-nos inclusive de que…
CERTO: Lembremo-nos ainda (além disso, ademais) de que…
ERRADO: …que estabelece novas normas modificando inclusive o salário dos professores.
CERTO: …que estabelece novas normas e modifica o próprio salário dos professores.
Infinitivo pessoal
Ver ALMEIDA (1998), verbete infinitivo pessoal
O infinitivo pessoal na oração subordinada não deve ser flexionado. “Menos erra quem não flexiona um infinitivo do que quem na dúvida se arremete a fazê-lo”.
Há dois casos clássicos: quando o sujeito da oração infinitivo-latina é o mesmo sujeito da oração principal (A); quando os dois são diferentes (B). Em ambos, a despeito do que soa melhor ao ouvido, o correto é a não pessoaliazação do infinitivo.
CERTO: Declaramos (nós) estar (nós) prontos. (A)
CERTO: A URSS não deixa judeus sair. (B - deixar: URSS, sair: judeus)
Exemplos:
ERRADO: Fazei-os pararem
CERTO: Fazei-os parar
ERRADO: Os raios matutinos faziam alvejarem os turbantes
CERTO: Os raios matutinos faziam alvejar os turbantes
ERRADO: Viram desaparecerem os godos
CERTO: Viram desaparecer os godos
ERRADO: Mandou-os o Senhor pregarem pelo mundo
CERTO: Mandou-os o Senhor pregar pelo mundo
ERRADO: Deixai virem a mim os pequeninos
CERTO: Deixai vir a mim os pequeninos
ERRADO: Napoleão viu seus batalhões caírem
CERTO: Napoleão viu seus batalhões cair
ERRADO: Vi os navios que partiam desaparecerem no horizonte
CERTO: Vi os navios que partiam desaparecer no horizonte
ERRADO: Vejamos do ar caírem as nuvens e as neves
CERTO: Vejamos do ar cair as nuvens e as neves
Enquanto
Prefira esta forma:
EVITAR: Ele, enquanto ajudante, desempenhava-se bem
PREFERIR: Ele, como ajudante, desempenhava-se bem
A nível de
Prefira esta forma:
EVITAR: Reunião a nível de ministros
PREFERIR: Reunião ministerial
EVITAR: Ficou conhecido a nível internacional
PREFERIR: Ficou conhecido internacionalmente
EVITAR: Legislação formada quer a nível estadual, quer a nível federal
PREFERIR: Legislação formada quer no âmbito estadual, quer no federal
Colocação
Não deve ser usado no sentido de proposição:
ERRADO: Ela fez uma colocação
Colocar / colocado / colocou etc.
Não deve ser usado no sentido de suscitar / suscitado / suscitou:
ERRADO: A discussão me colocou uma questão
Qualquer
Não usar com o significado de nenhum:
ERRADO: Fazer sem qualquer erro
CERTO: Fazer sem nenhum erro
Sequer
Não usar sequer sem oração negativa. Sequer tem o valor de mesmo:
ERRADO: Os alunos sequer foram avisados
CERTO: Os alunos nem sequer foram avisados
ERRADO: Eles sequer receberam os presentes
CERTO: Eles nem sequer receberam os presentes
Por si só
Este só não está na função adverbial, mas adjetiva, logo varia em grau:
CERTO: Livros por si sós
CERTO: Verbos que por si sós
Entre eu e você
As preposições (a / ante / após / até / com / de / desde / em / para / entre / por / sem etc.) exigem após si a forma pronominal oblíqua.
Exemplos:
ERRADO: entre mim e tu
CERTO: entre mim e ti
ERRADO: entre ti e eu
CERTO: entre ti e mim
ERRADO: entre ele e eu
CERTO: entre ele e mim
CERTO: entre Pedro e mim
CERTO: entre mim e você
De modo similar,
ERRADO: Dê o lápis para eu
CERTO: Dê o lápis para mim
ERRADO: Não vou sem tu
CERTO: Não vou sem ti
Atenção: quando o pronome é seguido de um verbo no infinitivo, ele assume a forma reta:
ERRADO: Não vá sem mim ver
CERTO: Não vá sem eu ver
ERRADO: Dê o lápis para mim escrever
CERTO: Dê o lápis para eu escrever
Atenção: Para mim estudar é difícil está correto, uma vez que mim não é sujeito de estudar; há, nessa oração, simples inversão de termos: Estudar para mim é difícil
Haver
Deve-se ver o emprego pessoal ou impessoal:
- No pessoal, é conjugado em todas as pessoas e tempos verbais:
CERTO: Ele havia chegado
CERTO: avíamos visto
- No impessoal, é invariável, e conjugado apenas na 3ª pessoa do singular. Neste caso o significado é o de existir / acontecer / ocorrer:
CERTO: Houve muitos acidentes na estrada
CERTO: Havia um sapo na sopa
CERTO: Há muitas coisas por fazer
A invariância transmite-se ao verbo auxiliar: Deve haver muitos candidatos / Tinha havido muitos discursos
Ter / Tinha
Quando no sentido de existir, substituir por: há / havia / existe / existia (não flexiona no plural)
Ter e Haver na locução verbal
Conjuga-se em todos os tempos, modos e pessoas:
CERTO: Tenho (hei) de ser pago
CERTO: Tens (hás) de ser pago
CERTO: Tem (há) de ser pago
CERTO: Teremos (havemos) de ser pagos
Nada a ver
Não há algo a ver, não há nexo. Nada a ver é a forma correta, e não nada haver
Existir
No emprego pessoal, flexiona: Existem pessoas (e não existe pessoas). Mas Faz 5 anos (e não fazem). Fazer, com emprego impessoal, é invariável
Enquanto que
Substituir por: enquanto, somente, sem o que
Ou usar: visto que / porquanto / já que / ao passo que
Na medida em que
Note:
ERRADO: à medida em que
CERTO: à medida que
Preferir visto que / considerando / porquanto / já que / ao passo que
De maneira a, de forma a, de modo a
Substituir por: de modo que / de maneira que / de modo que (a construção com o a geralmente vem acompanhada do verbo no infinitivo, e deve ser alterada)
Através de
Jamais na passiva ou indicando o agente da passiva, onde deve ser substituído por por / de etc.:
ERRADO: A ponte foi feita através de Paulo
CERTO: A ponte foi feita por Paulo
ERRADO: Deduz-se através das considerações
CERTO: Deduz-se dessas considerações
Ou, em outros casos, alterar para: mediante / por intermédio de / por meio de / durante etc.:
ERRADO: Resistiu através de dois anos
CERTO: Resistiu durante dois anos de luta
Face a, frente a
Preferir: ante / diante / perante
Em absoluto / em suspenso / em aberto / em definitivo / em sua totalidade
Preferir: absolutamente / pendente / indefinido / definitivamente / inteiramente
Dar-se conta
Substituir por perceber
De forma a poder
Substituir por de forma que possa
De resto
Substituir por aliás / além disso / ademais / além disso / quanto ao mais
Tirar partido
Preferir tirar proveito
Senão / se não
Senão é equivalente a mas sim / e sim / mas / porém
Se não é equivalente a no caso de não / dada a circunstância de que não
A fim / afim
A fim é locução, que significa para / com o fim: Saiu a fim de tomar um ar
Afim é adjetivo, que significa próximo / conexo / aderente: Eram práticas afins
Onde / aonde
Onde indica permanência em um lugar: Não sei onde (em que lugar) está
Aonde indica movimento para um lugar: Sei aonde (para onde) queres ir / Aonde vais?
Tanto quanto / tanto como
Quando se comparam coisas figurativamente, prefira tanto como:
CERTO: Meu amor por ela era tão grande como o oceano (como o oceano é grande)
CERTO: Dela nasceria uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu (como as estrelas são numerosas)
Tanto quanto é preferível em casos como:
CERTO: Ele é tão enérgico quanto o irmão (quanto o irmão é enérgico)
CERTO: É tão inteligente quão estudioso (quanto é estudioso)
Nem / e nem
Não usar o e com nem
ERRADO: Nem vem e nem me avisou
CERTO: Nem vem, nem me avisou
CERTO: Nem vem e não me avisou
Todo o / todo
Todo o é equivalente a inteiro
Todo é equivalente a cada
CERTO: Lembrei dela todo o dia
CERTO: Lembro dela todo dia
Tudo o que
Substituir por: tudo que
Em seguida
Substituir por já em construções como:
ERRADO: Vou em seguida
CERTO: Vou já
ERRADO: Fazemos em seguida
CERTO: Fazemos já
Em seguida somente disto para aquilo, no sentido de e na sequência, exigindo a presença dos dois termos. Mas, mesmo nesses casos, preferir logo / já / depois:
EVITAR: Fazemos a cópia e em seguida a lição
PREFERIR: Fazemos a cópia e logo a lição
EVITAR: Vou ao mercado e em seguida para minha casa
PREFERIR: Vou ao mercado e depois para minha casa
Levar a cabo
Não usar no sentido de realizado, ocorrido etc. O emprego correto é apenas no sentido de completar / concluir / arrematar / dar cabo de
Desde há tempo
Preferir desde algum tempo
Como sendo
Simplesmente eliminar. Não faz falta.
Morto a tiros / desenho a lápis / atentado a bomba / TV a cores etc.
Ver ALMEIDA (1998), verbetes com, em cores, a cores
Alterar o a para com:
CERTO: morto com tiros
CERTO: desenho com lápis
CERTO: escrever com máquina
CERTO: atentado com bomba
CERTO: TV em cores
Papel em branco
Substituir por papel branco
Preço
O preço de uma mercadoria é alto ou baixo, nunca caro ou barato
Bastante
Não deve ser usado em lugar de muito
Decepcionado com
Preferir desiludido com
Incipiente
É equivalente a: inicial / nascente / embrionário
Não confudir com insipiente, que é igual a principiante / ignorante
Despercebido / desapercebido
Não são sinônimos:
- despercebido é não notado
CERTO: O ladrão passou despercebido
- desapercebido é desprovido
CERTO: Aquela pessoa me apanhou desapercebida e eu não soube dar a informação que ela queria
Ir a / ir para
Ir a: vai e volta
CERTO: Vamos à praia
Ir para: vai e fica
CERTO: Vou-me para o exterior (e não volto)
Ter de / ter que
Ter de expressa a idéia de obrigatoriedade / necessidade / dever:
CERTO: Tenho de estudar para a prova amanhã (tenho necessidade de estudar)
Ter que expressa a idéia de algo para / coisas para:
CERTO: Ele tem muito que estudar (ele tem muitas matérias para estudar)
O mesmo / a mesma
Com função pronominal, prefira esta forma:
EVITAR: Refere-se ao mesmo
PREFERIR: Refere-se a ele
EVITAR: Feito pelo mesmo
PREFERIR: Feito por ele
Ter a fazer
Substituir por: ter por fazer / que fazer / para fazer:
ERRADO: Tenho muito a fazer
CERTO: Tenho muito por fazer
Possível
Não deve ser flexionada na construção o mais possível:
ERRADO: Os resultados são os mais promissores possíveis
CERTO: Os resultados são o mais promissores possível
Verbos abundantes
Em locução verbal na voz ativa com os verbos ter ou haver forma particípio regular, o terminado em ado ou ido:
CERTO: Ele não tem entregado as encomendas
Em locução verbal na voz passiva com os verbos ser ou estar forma particípio irregular:
CERTO: A encomenda foi entregue por ele
CERTO: Aquele homem está isento de dúvidas
São exceções ganhar / gastar / pagar, somente usados na forma irregular:
CERTO: A vida está ganha
CERTO: O tempo foi gasto
CERTO: A conta foi paga
E pasmo / pasmado, somente usado na forma regular, pois pasmo é sujeito:
CERTO: O pasmo da platéia, como O êxtase da platéia
ERRADO: Fiquei pasmo
CERTO: Fiquei pasmado
Gerúndio
Não se emprega como adjunto atributivo:
ERRADO: Procura-se auxiliar sabendo cozinhar
CERTO: Procura-se auxiliar que saiba cozinhar
Se se
Prefira esta forma:
EVITAR: Se se fizer
PREFIRA: caso se faça
ERRADO: Se se quiser
PREFIRA: caso se queira
Atenção: caso se queira e nunca caso queira-se: caso aqui é conjunção subordinativa condicional, e atrai o se
Hífen
O hífen aparece ligando o oblíquo (se / me / te / lhe / nos / vos / lhes) ao primeiro tempo verbal: foi-se / fui-me / haviam-me / tinham-nos etc.
São exceções:
- Formas verbais oxítonas do futuro
ERRADO: estarão se defrontando
CERTO: estarão defrontando-se
- Particípio, que não aceita posposição do oblíquo
ERRADO: haviam dado-me essa mensagem
CERTO: haviam me dado essa mensagem
REGÊNCIA NOMINAL
Ansioso em
Substituir por: ansioso por / ansioso de / ansioso para
Recusa em
Recusa em é usado verbo no infinitivo, somente:
CERTO: A recusa em apresentar desculpas valeu-lhe a perda de um amigo
Recusa a é aceito para conexão nominal e verbal:
CERTO: Ele se recusa a escutar
Recusa de é aceito somente para conexão nominal:
CERTO: Recusa de dinheiro
CERTO: Recusa do pedido
Negativa em
Substituir por:
- Negativa de, aceito para conexão nominal e verbal:
CERTO: Negativa de ouvir a aula
- Negativa a, somente para conexão nominal:
CERTO: Negativa ao pedido
CERTO: Negativa à continuação
- Negativa sobre, somente para conexão nominal:
CERTO: Negativa sobre a devolução
REGÊNCIA VERBAL
Chegar
Chegar a e não chegar em a (na/no)
ERRADO: Chegou na escola
CERTO: Chegou à escola
Convencer
Note:
ERRADO: convencer alguém que
CERTO: Convencer alguém de que
Custa a crer / custo crer
Uso com pronome, substituir por custa-me crer
Desagradar
É transitivo indireto:
ERRADO: Desagradaram o público
CERTO: As piadas desagradaram ao público
Desobedecer
É transitivo indireto:
ERRADO: Desobedeço as leis
CERTO: Eu desobedeço às leis
Escrever
Note:
ERRADO: para alguém
CERTO: escrever a alguém
Importar
No significado de acarretar não tem em:
CERTO: Importar sérias responsabilidades
Informar
É bitransitivo:
CERTO: infomar alguém de alguma coisa
Portanto:
ERRADO: Informei-o que
CERTO: Informei-o de que
ERRADO: Nós iremos informá-los que
CERTO: Nós iremos informá-los de que
Lançar / levar etc.
Em verbo de movimento a regência pede a e não em:
ERRADO: Levou-a em casa
CERTO: Levou-a à casa
Lembrar
Ver ALMEIDA (1999) parágrafo 777
Note:
ERRADO: Lembrar alguém de algo
CERTO: Lembrar algo a alguém
Precisar
No sentido de ter necessidade, tem dois casos:
- Como transitivo indireto, fica no singular:
CERTO: Precisa-se de livros
- Como transitivo direto, no plural:
CERTO: Precisam-se livros
Querer bem
Nesta acepção é transitivo indireto:
CERTO: Quero-lhe muito (bem)
CERTO: Do filho que muito lhe quer (bem)
Terminar
Como transitivo direto não permite a preposição de:
ERRADO: Terminei de ler
CERTO: Terminei a leitura
ERRADO: Terminei de contar
CERTO: Terminei a contagem do dinheiro
De se
Deve ser evitado nos seguintes casos:
- Se o verbo vier na forma não flexionada do infinitivo e como complemento nominal de adjetivos como fácil / impossível / raro etc. O infinitivo preposicionado assume o sentido passivo, por isso ser desnecessário o se:
ERRADO: Cartas impossíveis de se ler (de leitura)
CERTO: Cartas impossíveis de ler
ERRADO: Decisões fáceis de se manter (de manutenção)
CERTO: Decisões fáceis de manter
ERRADO: Lembranças difíceis de se afastar (de afastamento)
CERTO: Lembranças difíceis de afastar
ERRADO: Julgou-se a tarefa possível de se realizar (de realização)
CERTO: Julgou-se a tarefa possível de realizar
- Se o verbo não for reflexivo, ou pronominal, ou se seu emprego não exigir construção pronominal:
ERRADO: Fez-se uma lista com o propósito de se obter cálculos (de obtenção de)
CERTO: Fez-se uma lista com o propósito de obter cálculos
ERRADO: Estudou-se a forma de se corrigir o emprego da palavra (de correção do)
CERTO: Estudou-se a forma de corrigir o emprego da palavra
ERRADO: Acredita-se na viabilidade de se fazer o cálculo das perdas (de realização do)
CERTO: Acredita-se na viabilidade de fazer o cálculo das perdas
De se deve ser usado nos seguintes casos:
- Uso como verbo pronominal:
CERTO: Os animais tinham o hábito de se agrupar (ou de agrupar-se)
- Uso em construção pronominal:
CERTO: Ele queria ter uma chance de se lavar (ou de lavar-se)
CERTO: Ele pressentiu que haveria de se enganar com alguém (ou de enganar-se)
- Uso como verbo reflexivo:
CERTO: Não teve a oportunidade de se suicidar (ou de suicidar-se)
POSIÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS
Pronome preposto (próclise)
Ver ALMEIDA (1999) parágrafo 776
Atraem o pronome (me / te / se / o / a / lhe / nos / vos / se / os / as / lhes):
- Conjunções subordinativas (porque / caso / como / embora / conforme / quando etc.):
ERRADO: …embora temam-nas, as derrotas
CERTO: …embora as temam, as derrotas
- Palavras com sentido negativo (não / nunca / jamais / sem / nada / nem etc.):
ERRADO: Nunca ouvira-me
CERTO: Nunca me ouvira
- Pronomes indefinidos: tudo / nada / ninguém / alguém / algo etc.:
CERTO: Ninguém os quis
- Pronomes relativos: que / o qual / os quais / quem / cujo / onde / quanto:
ERRADO: Ele indicou o caminho que levaría-nos à saída
CERTO: Ele indicou o caminho que nos levaria à saída
- Pronomes demonstrativos: isso / isto / aquilo:
CERTO: Isso os atraiu
- Advérbios antes do verbo (aqui / bem / mal / muito etc.):
CERTO: Ele mal me alertara quando fui pego
Os pronomes pessoais do caso reto não atraem o pronome.
Também não se começa período com pronome oblíquo (me / te / se / lhe / lhes etc.):
ERRADO: Lhe perdôo e obedeço
CERTO: Perdôo-lhe e obedeço
Pronome posposto (ênclise)
Verbos no seguintes tempos verbais demandam pronome oblíqüo posposto:
- Imperativo afirmativo:
CERTO: Decifra-me ou devoro-te!
- Gerúndio:
CERTO: Mostrando-nos a entrada
Verbo em início de oração, pois não se começa oração com pronome, logo, é posposto
Infinitivo, até mesmo na presença de uma negativa:
CERTO: Ficamos de contatar-nos
CERTO: Não contrariá-lo
CERTO: Jamais ir-se
CERTO: Nunca dizê-lo
Pospõe-se ao infinitivo quando este vier precedido de auxiliar (Quero afirmar-te) ou nas conjugações perifrásticas, na forma gerundial e infinitivo:
CERTO: Não podendo retirar-se
CERTO: Não querendo deter-se
Porém, note:
CERTO: Fazendo-se passar (não é auxiliar, nem perifrástico, é o emprego do pronominal fazer-se)
CONCORDÂNCIA
Grande parte
Seguida de complemento no plural, o verbo vai para o plural:
ERRADO: Grande parte de vocês é meu amigo
CERTO: Grande parte de vocês são meus amigos
Incluso
Ver Inclusive
É um adjetivo, cujo emprego exige variação:
CERTO: Notas inclusas
Dó
É substantivo masculino:
ERRADO: Tenho muita dó
CERTO: Tenho muito dó
SOLECISMOS
Ceiar
Substituir por cear
Degladiar
Substituir por digladiar
Dignatário
Substituir por dignitário
BARBARISMOS
Assumir
Não é o mesmo que presumir ou pressupor
Abandonar-se
Substituir por entregar-se
Abordar
Substituir por iniciar / entrar / encetar / tratar (assunto)
Ao abrigo de
Substituir por estar a salvo de
Amar
Não deve ser usado em lugar de gostar
Atingir
Não deve ser usado em lugar de ferir
Bater em retirada
Substituir por pôr-se em retirada
Bizarro
Não deve ser usado em lugar de extravagante
Chance
Não deve ser usado em lugar de oportunidade
Compromisso
Não usar em lugar de acordo ou concessão
Conceber
Não deve ser usado em lugar de escrever
Conduzir-se
Não deve ser empregado em lugar de proceder
Costume
Não deve ser usado em lugar de traje
Cor de
Deve-se sempre empregar cor de quando a cor do objeto é comparada à de outro:
ERRADO: vestido laranja
CERTO: vestido cor de laranja
ERRADO: olhos marrons
CERTO: olhos cor de castanha
ERRADO: blusa lilás
CERTO: blusa cor de lilás
Debater
Não deve ser empregado em lugar de discutir / polemizar, como em:
CERTO: eles discutiram sobre qual seria a saída
CERTO: eles entraram em uma discussão
Desapontado / desapontamento
Substituir por decepcionado / decepção / desiludir
Devido a
Preferir por motivo de / por causa de
Diletante
Preferir amador (italianismo)
Em pleno / em plena
Preferir esta forma:
EVITAR: Em plena rua
PREFERIR: No meio da rua
EVITAR: Em pleno mar
PREFERIR: Em alto mar
Experienciar
Use experimentar, viver, vivenciar
Fazer erros
Preferir cometer erros
Fazer um passeio
Preferir dar um passeio
Feito em
Substituir por (feito) de:
ERRADO: Casa em material de primeira
CERTO: Casa de material de primeira
ERRADO: Jóia feita em ouro
CERTO: Jóia feita de ouro
Ganhar
Não deve ser usado em lugar de alcançar
ERRADO: Ganhou a rua
Lançar
Não deve ser empregado em lugar de apresentar / redigir
Marcante
Não deve ser empregado em lugar de notável / distinto / conhecido / ilustre / eminente
Propriedade
Não deve ser empregado em lugar de alinho / apuro / limpeza / asseio
Renomado
Preferir notável / afamado / famoso
Revanche
Não deve ser empregado em lugar de vingança / desforra
Ter lugar
Substituir por realizar(-se) / ocorrer / suceder
Todos os dois
Substituir por os dois ou ambos
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas, São Paulo, Editora Ática, 4. ed., 1998.
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa, São Paulo, Editora Saraiva, 44. ed., 1999.
FERNANDES, Francisco. Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, São Paulo, Globo, 22. ed., 1993.
LICENÇA
Copyright (c) 2022, Pedro Jerônimo. Todos os direitos reservados.
AUTORES
O compilado de verbetes é resultado de anos de trabalho com escrita, tradução e revisão de textos literários em português por Francisco Faria. O autor cedeu gentilmente o conteúdo para o presente fim.
crev é desenvolvido e mantido por Pedro Jerônimo <pedro[arroba]jeronimo.xyz>. É disponibilizado em dois formatos: uma página na web e um arquivo de manual, que pode ser instalado em um sistema linux:
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# mandb